8 doces do Ribatejo para provar em Portugal

As sobremesas e doces do Ribatejo são marcadas por uma forte influência conventual, que se reflete tanto nos ingredientes quanto nas técnicas de preparo utilizadas.

Durante séculos, os conventos da região foram responsáveis por criar e aprimorar receitas doces que, até hoje, são muito apreciadas.

A tradição conventual se destaca nas sobremesas do Ribatejo de diversas formas, como na utilização de ingredientes simples, mas saborosos, como açúcar, ovos, farinha, amêndoas e frutas cristalizadas.

Além disso, a técnica de preparo também é bastante característica, envolvendo muitas vezes o uso de forno e a fritura, mas também a criação de camadas e texturas diferenciadas.

As sobremesas e doces conventuais do Ribatejo são importantes não só pela sua deliciosa combinação de sabores, mas também por fazerem parte da história e cultura da região.

São doces que, muitas vezes, são transmitidos de geração em geração, tornando-se um patrimônio cultural que reflete a identidade do Ribatejo. Eles têm o poder de despertar memórias e sensações, e, portanto, são uma parte importante da vida dos habitantes locais.

Origem dos doces conventuais portugueses

Os doces conventuais portugueses são uma tradição rica em história e sabores. A sua origem remonta aos tempos dos mosteiros e conventos, onde as freiras e monges criavam receitas a partir dos ingredientes disponíveis, como ovos, açúcar, amêndoas e especiarias.

Muitos desses doces eram criados para celebrações religiosas e festividades, e acabaram se tornando parte da cultura gastronômica portuguesa.

A introdução do açúcar na culinária portuguesa, proveniente das colônias no Brasil e da produção de cana de açúcar na Ilha da Madeira, foi um fator determinante para a criação de novas receitas e aprimoramento das já existentes.

O uso do açúcar permitiu que os doces ficassem mais sofisticados, com uma textura mais suave e sabor mais doce.

Muitos dos doces conventuais portugueses possuem nomes relacionados à história e religião, como aspetos da vida de santos ou datas importantes da liturgia católica.

Alguns são característicos de regiões específicas de Portugal, como os doces conventuais de Alcobaça e de Tomar.

Entre os ingredientes mais utilizados nos doces conventuais portugueses, além do açúcar e ovos, estão as amêndoas, frutas cristalizadas, canela, cravinho, gila e nozes.

Cada doce tem sua própria técnica de preparo e apresentação, o que torna a arte de fazer doces conventuais uma tradição muito valorizada em Portugal.

Conheça agora 8 doces ribatejanos para você provar nas suas próximas férias em Portugal:

Bolos de Cabeça, Torres Novas

Os bolos de cabeça, um dos ex-libris da doçaria da região de Torres Novas, são conhecidos por sua massa lêveda, maciça, mas fofa, que é aromatizada com erva-doce e raspas de limão. Essa combinação de sabores e texturas é o que torna esses bolos tão especiais e irresistíveis.

A preparação da massa dos bolos de cabeça é feita de forma minuciosa e exige bastante habilidade por parte do padeiro. A massa é preparada com farinha, açúcar, ovos, leite e manteiga, além da erva-doce e das raspas de limão.

Depois de todos os ingredientes serem misturados e amassados, a massa é deixada para crescer, o que dá a ela a textura macia e fofa característica dos bolos de cabeça.

Os bolos de cabeça são uma iguaria que tem uma longa história e é muito apreciada pelos habitantes da região do Ribatejo e pelos visitantes de Torres Novas. Eles podem ser encontrados em diversas padarias e pastelarias da cidade e são uma ótima opção

A massa dos bolos de cabeça precisa ser amassada com precisão e deixada para crescer na medida certa, para que possa ser moldada e trançada com facilidade.

Essa etapa requer uma habilidade especial, pois as massas precisam ser modeladas de forma precisa e delicada para obter a forma característica dos bolos.

Após a massa ser preparada e moldada em pequenas bolas, ela é achatada e enrolada em uma forma de oito. Esse formato é o que dá o nome ao doce, já que a forma final se assemelha à cabeça de uma pessoa, com dois lados e uma protuberância no centro.

O resultado final é um doce saboroso, com uma textura macia e uma apresentação muito peculiar. Os bolos de cabeça revelam o gosto da doçaria popular pelas massas modeladas como se fossem barro, que se torcem, se enroscam e se entrançam antes de entrarem no forno.

Arrepiados, Almoster

O Convento de Santa Maria em Almoster, no concelho de Santarém, foi o lar das freiras da ordem das Clarissas até a extinção das ordens religiosas em Portugal em 1834. Foi lá que estas freiras criaram um dos doces mais famosos da região: os Arrepiados.

Diz a lenda que as monjas do mosteiro de Almoster criaram o doce com a intenção de superar a fama dos celestes do Convento de Santa Clara, em Santarém.

Os arrepiados são bolos de feitura simples, feitos com claras de ovos e amêndoas que eram facilmente encontradas na despensa do convento.

A história conta que as freiras estavam preparando os bolos para um grupo de visitantes importantes quando uma delas se preocupou com a simplicidade dos doces.

Ela se perguntou se seria adequado servir um doce tão modesto para convidados tão ilustres, especialmente considerando a fama dos doces das Clarissas.

Enquanto isso, uma das freiras estava preparando as amêndoas para o bolo e afirmou que os arrepiados ficariam tão deliciosos que os fidalgos se sentiriam “arrepiados” com o sabor.

E assim, o nome pegou e os bolinhos simples e deliciosos ganharam um lugar de destaque na gastronomia local.

Atualmente, os arrepiados são um doce muito apreciado em Portugal e além-fronteiras. Eles são feitos com uma mistura de claras de ovos, amêndoas e açúcar, e possuem uma textura crocante e um sabor suave e adocicado.

A história dos arrepiados é mais uma prova da importância das ordens religiosas na preservação da gastronomia e cultura portuguesas.

Pampilho, Santarém

O pampilho é um doce muito apreciado na cidade de Santarém e tem uma história curiosa. O seu nome e forma remetem à vara comprida usada pelos campinos, os pastores de gado da região.

O doce tem uma forma alongada, semelhante a uma vara, e é recheado com doce de ovos e canela, embora também exista uma versão que utiliza apenas chocolate como recheio.

Hoje em dia, é uma das especialidades mais populares da doçaria de Santarém, e pode ser encontrado em muitas pastelarias da cidade e arredores.

O sabor do doce de ovos e canela é muito característico e inconfundível, e o pampilho é frequentemente escolhido como uma lembrança ou presente típico da região.

A história mais aceita é a de que os pampilhos foram criados por Alfredo Oliveira, da pastelaria Bijou, em Santarém, na década de 1940.

A criação do pampilho mostra como a doçaria tradicional pode ser reinventada e adaptada às tendências e necessidades contemporâneas.

A Pastelaria Bijou, onde o pampilho foi criado, tornou-se rapidamente famosa por este doce e hoje em dia é um dos locais mais procurados na cidade de Santarém.

A criatividade dos pasteleiros e a sua capacidade de inovação são fundamentais para manter viva a tradição da doçaria regional, ao mesmo tempo que se introduzem novos sabores e formatos que vão de encontro aos gostos dos consumidores modernos.

Assim, o pampilho é mais um exemplo da riqueza e diversidade da doçaria portuguesa.

Celestes de Santa Clara, Santarém

As receitas conventuais são conhecidas pela sua originalidade e requinte, sendo muitas vezes segredos bem guardados pelas freiras que as criaram. Este é o caso do doce celestes de Santa Clara, que por muitos anos foi mantido em segredo pelas monjas Clarissas.

Esta iguaria tem como ingredientes principais miolo de amêndoa, ovos e açúcar pilé, sendo envolto numa fina camada de papel de obreia, um papel muito fino e delicado, feito a partir de fécula de batata, que é utilizado na produção de hóstias para uso em cerimônias religiosas da Igreja Católica.

Durante anos, as monjas aperfeiçoaram a receita, acrescentando novos ingredientes e experimentando diferentes métodos de preparação até alcançarem o sabor e a textura perfeitos.

Porém, há cerca de cem anos, a receita foi revelada ao proprietário de uma mercearia fina chamado Ajax Augusto da Silva Rato.

Este homem astuto conseguiu adquirir a receita em segredo e foi através da sua iniciativa que os celestes de Santa Clara começaram a ser divulgados e comercializados.

A partir daí, o doce ganhou fama rapidamente e tornou-se uma das especialidades conventuais mais conhecidas em Portugal.

Os celestes de Santa Clara são ainda hoje produzidos por diversas pastelarias e casas de doces em todo o país, mantendo a sua receita original e a sua qualidade inigualável.

Pastel de Feijão, Torres Novas

O pastel de feijão é um doce típico português, mas a sua origem não está totalmente clara.

Embora Torres Novas seja uma das cidades portuguesas mais conhecidas pela sua produção de pastéis de feijão, há outras regiões que também reivindicam a sua origem, como por exemplo, Elvas, Alcácer do Sal e até mesmo Macau, antiga colónia portuguesa na Ásia.

Acredita-se que a receita do pastel de feijão tenha sido criada por influência dos doces tradicionais trazidos pelos comerciantes portugueses do Oriente no século 16, como o doce de feijão azuki, bastante popular no Japão.

A partir daí, a receita foi adaptada e aprimorada pelos pasteleiros portugueses ao longo do tempo, dando origem a diversas variações regionais do doce, incluindo o famoso pastel de feijão de Torres Novas.

Este doce tem uma massa crocante e um recheio macio e doce, feito de puré de feijão branco, açúcar e ovos. É uma sobremesa muito apreciada em Portugal, tanto pelos locais como pelos turistas que visitam o país.

A receita original do pastel de feijão é ainda hoje mantida em segredo, transmitida de geração em geração, muitas vezes dentro das próprias famílias que têm tradição na sua confecção.

No entanto, existem várias versões desta receita em todo o país, algumas com variações nos ingredientes ou nos métodos de preparação.

Para além de Torres Novas, o Pastel de Feijão é também muito popular em outras regiões de Portugal, como Lisboa, onde é vendido em várias pastelarias e confeitarias tradicionais.

Ainda assim, é em Torres Novas que se encontra a maior variedade e qualidade desta iguaria, que é um verdadeiro símbolo da doçaria portuguesa.

Bom Marido e Boa Esposa, Ferreira do Zêzere

Os doces bom marido e boa esposa são duas delícias típicas da região de Ferreira do Zêzere, em Portugal. São feitos à base de açúcar, ovos e amêndoa, e são muito apreciados pelos visitantes da pastelaria Pérola do Zêzere, que os produz com primor e cuidado.

A história por trás desses doces é bastante curiosa. Emília Peixoto, responsável pela parte dos doces da pastelaria, soube que a prefeitura de Ferreira do Zêzere guardava uma receita de um doce chamado “bom marido”.

Acredita-se que o nome bom marido tenha surgido porque, antigamente, as mulheres ofereciam esses doces aos seus maridos como uma forma de agradar e mimar.

Pois bem, Emília Peixoto conseguiu a receita e começou a produzir o doce em sua pastelaria. Com o tempo, seus clientes sugeriram a criação de um doce para complementar o bom marido, dando origem à boa esposa.

Os nomes dos doces são uma brincadeira com a ideia de um casal perfeito, em que um complementa o outro. O bom marido é o doce masculino, enquanto o boa esposa é o doce feminino.

A pastelaria Pérola do Zêzere é conhecida por seus produtos de marca própria, incluindo café, cerveja artesanal, licores e compotas, além dos famosos bons maridos e boas esposas. É um ótimo motivo para visitar a cidade e experimentar essas delícias únicas.

A receita desses doces é relativamente simples, mas exige habilidade e paciência na sua confecção. Os ingredientes são misturados cuidadosamente até formarem uma massa homogênea, que é depois moldada em pequenos retângulos.

Após o cozimento, os “bons maridos” são decorados com um pedaço de amêndoa inteira no topo, conferindo-lhes uma aparência bonita e apetitosa. As “boas esposas” não levam nada na cabeça, só o marido.

Fatias de Tomar

As fatias de Tomar são um doce típico de Portugal, mais especificamente da cidade de Tomar, no centro do país. A sua história remonta ao Convento dos Templários, onde terá sido criado pelos monges que ali habitavam.

Acredita-se que o doce tenha sido originalmente chamado de “fatias da China”, talvez devido a alguma influência da culinária oriental.

A receita tradicional das fatias de Tomar é feita com gemas de ovos batidas que são cozidas em banho-maria e depois embebidas em um xarope de açúcar.

O resultado é um doce macio, húmido e amarelinho, com uma textura que lembra fatias de pão. As fatias são normalmente vendidas em boiões de vidro hermeticamente fechados para garantir a sua frescura e qualidade.

Embora as fatias de Tomar sejam um doce antigo e tradicional, a sua popularidade continua até hoje. Muitas pastelarias e confeitarias em Tomar e outras cidades portuguesas vendem este doce, sendo uma atração turística para os visitantes que procuram provar as iguarias locais.

Além disso, o doce tem sido objeto de promoção por parte das autoridades locais e regionais, como uma forma de preservar e promover a cultura e a história da cidade e da região dos Templários.

Palha de Abrantes

A palha de Abrantes é um doce tradicional português, típico da cidade de Abrantes, na região do Ribatejo. É feito à base de ovos e açúcar, e o seu nome provém da sua aparência, que se assemelha a palha.

O doce consiste em fios finos de ovos, que são cozidos em calda de açúcar e depois moldados em pequenos ninhos ou montes. A cobertura do doce é feita com fios de ovos queimados, que lhe dão um toque caramelizado, e pode incluir também amêndoas ou outros frutos secos.

A origem da Palha de Abrantes remonta ao século 18, quando terá sido criada por freiras no Convento de Santa Clara de Abrantes. O doce tornou-se popular na cidade e na região, e ainda hoje é uma das iguarias mais apreciadas pelos visitantes.

Além da Palha de Abrantes, a cidade é também conhecida por outros doces conventuais, como as Tigeladas de Abrantes.

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